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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Adubação x Qualidade da Pastagem – Carboidratos 2/5

Os carboidratos desempenham funções associadas a diversos processos metabólicos como transferência e armazenamento de energia, e quantitativamente são os principais componentes da parede celular das plantas (ANTUNES et al., 2011). Esses nutrientes são classificados como estruturais (celulose, hemicelulose) e não estruturais (sacarose, glicose, frutose, amido, pectina).
Nos ruminantes os carboidratos fibrosos, ou estruturais, são fundamentais para o atendimento das exigências de energia, manutenção da saúde do animal, síntese de proteína microbiana e de componentes do leite. A fibra representa a fração de carboidratos dos alimentos de digestão lenta ou indigestível, e dependendo de sua concentração e digestibilidade, impõe limitações sobre o consumo de matéria seca (NUSSIO et al, 2011).
O uso de técnicas adequadas permite às plantas forrageiras tropicais de ciclo fotossintético C4, produzirem acima de 60 toneladas de matérias seca por hectare (DRUMOND; AGUIAR, 2005). A grande produção de biomassa exige uma estrutura de sustentação mais resistente, com isto o teor de fibra, principalmente lignina, é mais elevada em plantas C4 em ralação às do grupo fotossintético C3. Essa progressão ocorre em detrimento do conteúdo celular e componentes de boa digestibilidade, como os carboidratos não estruturais (CNE) e proteína (VAN SOEST, 1994).
Pastagens tropicais, logo, se caracterizam por serem menos digestíveis para ruminantes em função da alta incorporação de fibra na matéria seca. Entretanto, a adubação associada ao manejo da pastagem possibilita aos pastos tropicais valores de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) semelhantes aos de plantas temperadas, fotossíntese C3 (DANES, 2010).
A FDN é uma forma de expressar o total de fibra das plantas e é composta por hemicelulose, celulose e lignina, que apresentam lenta taxa de digestão. Dos constituintes da FDN, a hemicelulose é a que apresenta maior digestibilidade ruminal, seguida pela celulose. Já a lignina é indigestível pela microbiota do rúmen, contudo este tipo de fibra está diretamente correlacionada com a digestibilidade “in vitro” da matéria seca (VAN SOEST, 1994).
O alto volume ocupado no rúmen pela fração fibrosa das forragens, aliando as características de baixa densidade e degradação lenta, quando relacionada ao conteúdo celular, limita o consumo pelo enchimento ruminal. Nesse contexto a FDN assume papel central uma vez que o consumo é o principal responsável pelo desempenho animal em sistemas pastoris (REIS; DA SILVA et al., 2011). Entretanto é importante enfatizar que uma maior facilidade de hidrólise da FDN pode favorecer seu desaparecimento no rúmen, reduzir o enchimento físico e permite o maior consumo voluntário de alimentos. A hidrólise da FDN é elevada com a redução da concentração de lignina (NUSSIO et al., 2011).
Estudos mostram que a adubação nitrogenada implicou em leve redução do teor de FDN. Em ampla revisão de 19 experimentos onde se computou a fibra insolúvel em detergente neutro, nove apresentaram queda linear da FDN, em quatro os valores não foi alterado e seis não seguiram nenhuma tendência de aumento ou queda com aplicação progressiva de N, podendo haver influência de erros experimentais (FABRICIO et al., 2010; REIS et al., 2013; RODRIGUEZ, 2012).
Van Soest, (1994) sugeriu que a FDN seja abaixo de 60% da matéria seca (MS) nas forragens, para que não venha a limitar o consumo pela expansão do rúmen. Essa situação foi observada por Souza et al. (2006) e Fabricio et al. (2010), quando agregaram mais fertilizante nitrogenado no manejo das cultivares, de Panicum maximum, Atlas, Massai e Tobiatã, e ainda por Henriques et al. (2007), cultivando Setaria anceps.
A lignina localiza-se principalmente na lamela média, onde é depositada durante o enrijecimento do tecido vegetal, tornando mais firme a estrutura da celulose. A lignificação da parede celular é um processo oneroso para os vegetais, desta maneira o rápido crescimento diminui a lignificação (ANTUNES et al., 2011).
Reis et al. (2013) e Rodriguez (2012), corroboraram essa afirmação ao identificarem alteração na lignificação com elevação da produção de MS em Brachiaria brizantha, havendo diminuição da lignina de 3,23 para 2,66% e 4,40 para 3,59%, quando a dose de N mudou de 0 para 350 kg/ha/ano e 50 para 300 kg/ha/ano, nas respectivas investigações. Todavia, VIANA et al. (2011) esclareceram que a adubação nitrogenada máxima de 300 kg/ha/ano, não teve implicação sobre a lignina, que manifestou média de 5,78% da MS no Brachiaria decumbens.
Na FIGURA 1 pode-se observar a elevação da DIVMS (Digestibilidade “in vitro” da matéria seca) com influência das doses de N. Oliveira et al. (2011), presenciaram que as taxas de N na adubação anual responderam por 80% das variações na DIVMS. Rodriguez (2012), validou esse conceito ao indicar que a digestibilidade “in vitro” da FDN somou em média 2,1 pontos percentuais (54,4% x 56,5%), comparando os tratamentos com 50 contra 600 kg/ha/ano de N, nos capins Marandu e Mombaça.
  

Figura 6 - Efeito da adubação nitrogenada sobre a digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIVMS em % da MS).
Fonte: Adaptado de FRANÇA et al., 2007; OLIVEIRA  et al., 2011; RODRIGUEZ, 2012.

Lançanova (1991), sugeriu que o incremento de uma unidade percentual na digestibilidade da dieta resulta no aumento de 100 kg de leite por lactação e para compensar a redução de um ponto percentual da digestibilidade da MS de forragem é necessário cerca de 0,6 kg de concentrado por dia para cada vaca em lactação. Avaliando a curva de DIVMS apresentada (FIGURA 1), a adubação com nitrogênio para quantia de 102 kg/ha/ciclo (nível econômico) resultaria no acréscimo de 2,5% de DIVMS, ou seja, economia de 1,5 kg de concentrado por vaca diariamente ou 457,5 kg de leite a mais no decorrer da lactação (305 dias).
A correlação da PB com a FDN e o efeito deste último na DIVMS e consumo de MS (CMS) foram confirmados por Soares et al. (2004), que examinaram a composição bromatológica e consumo de capim-elefante (Pennisetum purpureum cv. Napier) picado e fornecido no cocho para vacas em lactação. Para estes cientistas quanto maior a FDN, variando de 62,99; 65,50 e 70,12% da MS, o teor de PB reduz, apresentando 11,37; 10,49 e 9,09%, tem-se também redução da DIVMS 58,70; 57,71 e 55,16%, reduzindo consequentemente o CMS 1,90; 1,80 e 1,70% do peso vivo, respectivamente.
O nitrogênio aplicado às plantas eleva a concentração de proteína na MS, em detrimento da FDN. E o acúmulo de produtos nitrogenados, promove diluição da fração de parede celular incrementando a digestibilidade. O crescimento acelerado das pastagens que recebem adubação aumenta também a digestibilidade por adicionar componente de maior degradação ruminal, a hemicelulose. A redução da FDN e maior DIVMS promove o consumo, que por sua vez alavanca o desempenho.

Carboidratos não estruturais
Os carboidratos não estruturais (CNE), representados pela sacarose, glicose, frutose e amido, são mais prontamente digestíveis pela microbiota ruminal. O alto poder fermentativo destes, em relação aos carboidratos estruturais, os garantem como boas fontes energéticas. Carboidratos não estruturais atuam em processos bioquímicos diversos, principalmente como fonte de energia ou cadeias de carbono. São representados pelas frações de carboidratos contidas dentro das células e em maior concentração armazenados em estruturas de reservas. A acumulação de carboidratos solúveis nos tecidos das plantas ocorre quando, a taxa de formação de glicose, durante o processo fotossintético excede a quantidade necessária ao crescimento e respiração (ANTUNES et al., 2011).
As plantas forrageiras, mesmo em plena fase de crescimento, armazenam material de reserva na raiz e base do colmo para garantir sua sobrevivência em caso de estresse (CECATO et al., 2001). Sabe-se que as gramíneas tropicais acumulam pouco CNE em condições de nitrogênio (N) limitante. O acúmulo dos carboidratos solúveis pode ser atribuído ao alongamento da lamina foliar, em decorrência da maior idade do vegetal e de doses de N, proporcionando ampliar a produção de fotoassimilados, que são translocados para os tecidos de reserva. Entretanto, se a altura de pastejo ou do corte for drástica e não favorecer a manutenção de um índice de área foliar mínimo ocorrerá gasto dos carboidratos de reserva em busca de estabelecer um novo estande de folhas, a partir do qual começaram a produzir fotoassimilados deixando-a de ser dreno para atuar como fonte de CNE (RODRIGUES, 1984).
A prática de fornecer fertilizantes para a pastagem conciliada com colheitas não frequente resulta em aumento nos teores de carboidratos de reserva. Vantini et al. (2005), encontram maior efeito, sobre o aumento de CNE, correlacionado com a idade da planta em vista do nível de adubação com N, sendo que as duas variáveis foram positivas em promover a quantidade de CNE, na base do colmo e nas raízes.
Em contraponto, estudos realizados por Rodrigues et al. (2005), mostraram que a aplicação de fertilizantes promove perdas nos teores de CNE do Brachiaria decumbens, e atrelado a este feito apuraram acréscimo na produção de MS. Os autores indicaram que a adubação nitrogenada acarreta redução das reservas porque estimula o crescimento, mobilizando os compostos acumulados nos diversos órgãos.
Os carboidratos de reserva são de grande importância para as plantas forrageiras na sua recuperação após o corte ou pastejo, desta maneira desfolhas constantes reduzem a concentração de CNE. Contudo, deve ser satisfeita a condição para armazenamento dos carboidratos de reserva, que são utilizados pela planta como nutrientes para a sua manuteção e o desenvolvimento de futuros perfilhos e raízes. Então, um bom manejo atrelado à adubação torna-se importante para a recuperação e produção das plantas forrageiras, como também aumento dos CNE que são fontes de energia prontamente digestível para os animais.

Este texto foi extraído de:
RABELO, D. M. L. Efeito da adubação na qualidade da pastagem e no desempenho de bovinos. Monografia (Pós-graduação em Nutrição e Alimentação de Ruminantes) – Faculdades Associadas de Uberaba, FAZU, Uberaba, 15 f. 2016.

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