Os
carboidratos desempenham funções associadas a diversos processos metabólicos
como transferência e armazenamento de energia, e quantitativamente são os
principais componentes da parede celular das plantas (ANTUNES et al., 2011).
Esses nutrientes são classificados como estruturais (celulose, hemicelulose) e
não estruturais (sacarose, glicose, frutose, amido, pectina).
Nos
ruminantes os carboidratos fibrosos, ou estruturais, são fundamentais para o
atendimento das exigências de energia, manutenção da saúde do animal, síntese
de proteína microbiana e de componentes do leite. A fibra representa a fração
de carboidratos dos alimentos de digestão lenta ou indigestível, e dependendo
de sua concentração e digestibilidade, impõe limitações sobre o consumo de
matéria seca (NUSSIO et al, 2011).
O
uso de técnicas adequadas permite às plantas forrageiras tropicais de ciclo
fotossintético C4, produzirem acima de 60 toneladas de matérias seca por
hectare (DRUMOND; AGUIAR, 2005). A grande produção de biomassa exige uma
estrutura de sustentação mais resistente, com isto o teor de fibra,
principalmente lignina, é mais elevada em plantas C4 em ralação às do grupo
fotossintético C3. Essa progressão ocorre em detrimento do conteúdo celular e
componentes de boa digestibilidade, como os carboidratos não estruturais (CNE)
e proteína (VAN SOEST, 1994).
Pastagens
tropicais, logo, se caracterizam por serem menos digestíveis para ruminantes em
função da alta incorporação de fibra na matéria seca. Entretanto, a adubação
associada ao manejo da pastagem possibilita aos pastos tropicais valores de
fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) semelhantes aos de plantas
temperadas, fotossíntese C3 (DANES, 2010).
A
FDN é uma forma de expressar o total de fibra das plantas e é composta por
hemicelulose, celulose e lignina, que apresentam lenta taxa de digestão. Dos
constituintes da FDN, a hemicelulose é a que apresenta maior digestibilidade
ruminal, seguida pela celulose. Já a lignina é indigestível pela microbiota do
rúmen, contudo este tipo de fibra está diretamente correlacionada com a
digestibilidade “in vitro” da matéria seca (VAN SOEST, 1994).
O
alto volume ocupado no rúmen pela fração fibrosa das forragens, aliando as
características de baixa densidade e degradação lenta, quando relacionada ao
conteúdo celular, limita o consumo pelo enchimento ruminal. Nesse contexto a
FDN assume papel central uma vez que o consumo é o principal responsável pelo
desempenho animal em sistemas pastoris (REIS; DA SILVA et al., 2011).
Entretanto é importante enfatizar que uma maior facilidade de hidrólise da FDN
pode favorecer seu desaparecimento no rúmen, reduzir o enchimento físico e
permite o maior consumo voluntário de alimentos. A hidrólise da FDN é elevada com
a redução da concentração de lignina (NUSSIO et al., 2011).
Estudos
mostram que a adubação nitrogenada implicou em leve redução do teor de FDN. Em
ampla revisão de 19 experimentos onde se computou a fibra insolúvel em
detergente neutro, nove apresentaram queda linear da FDN, em quatro os valores
não foi alterado e seis não seguiram nenhuma tendência de aumento ou queda com
aplicação progressiva de N, podendo haver influência de erros experimentais (FABRICIO
et al., 2010; REIS et al., 2013; RODRIGUEZ, 2012).
Van
Soest, (1994) sugeriu que a FDN seja abaixo de 60% da matéria seca (MS) nas
forragens, para que não venha a limitar o consumo pela expansão do rúmen. Essa
situação foi observada por Souza et al. (2006) e Fabricio et al. (2010), quando
agregaram mais fertilizante nitrogenado no manejo das cultivares, de Panicum maximum, Atlas, Massai e
Tobiatã, e ainda por Henriques et al. (2007), cultivando Setaria anceps.
A
lignina localiza-se principalmente na lamela média, onde é depositada durante o
enrijecimento do tecido vegetal, tornando mais firme a estrutura da celulose. A
lignificação da parede celular é um processo oneroso para os vegetais, desta
maneira o rápido crescimento diminui a lignificação (ANTUNES et al., 2011).
Reis
et al. (2013) e Rodriguez (2012), corroboraram essa afirmação ao identificarem
alteração na lignificação com elevação da produção de MS em Brachiaria brizantha, havendo diminuição
da lignina de 3,23 para 2,66% e 4,40 para 3,59%, quando a dose de N mudou de 0
para 350 kg/ha/ano e 50 para 300 kg/ha/ano, nas respectivas investigações.
Todavia, VIANA et al. (2011) esclareceram que a adubação nitrogenada máxima de
300 kg/ha/ano, não teve implicação sobre a lignina, que manifestou média de
5,78% da MS no Brachiaria decumbens.
Na
FIGURA 1 pode-se observar a elevação da DIVMS (Digestibilidade “in vitro” da matéria seca) com
influência das doses de N. Oliveira et al. (2011), presenciaram que as taxas de
N na adubação anual responderam por 80% das variações na DIVMS. Rodriguez
(2012), validou esse conceito ao indicar que a digestibilidade “in vitro” da
FDN somou em média 2,1 pontos percentuais (54,4% x 56,5%), comparando os
tratamentos com 50 contra 600 kg/ha/ano de N, nos capins Marandu e Mombaça.
Figura
6 - Efeito da adubação nitrogenada sobre a digestibilidade “in vitro” da matéria seca (DIVMS em % da
MS).
Fonte:
Adaptado de FRANÇA et al., 2007; OLIVEIRA
et al., 2011; RODRIGUEZ, 2012.
Lançanova
(1991), sugeriu que o incremento de uma unidade percentual na digestibilidade
da dieta resulta no aumento de 100 kg de leite por lactação e para compensar a
redução de um ponto percentual da digestibilidade da MS de forragem é
necessário cerca de 0,6 kg de concentrado por dia para cada vaca em lactação.
Avaliando a curva de DIVMS apresentada (FIGURA 1), a adubação com nitrogênio
para quantia de 102 kg/ha/ciclo (nível econômico) resultaria no acréscimo de
2,5% de DIVMS, ou seja, economia de 1,5 kg de concentrado por vaca diariamente
ou 457,5 kg de leite a mais no decorrer da lactação (305 dias).
A
correlação da PB com a FDN e o efeito deste último na DIVMS e consumo de MS
(CMS) foram confirmados por Soares et al. (2004), que examinaram a composição
bromatológica e consumo de capim-elefante (Pennisetum
purpureum cv. Napier) picado e fornecido no cocho para vacas em lactação.
Para estes cientistas quanto maior a FDN, variando de 62,99; 65,50 e 70,12% da
MS, o teor de PB reduz, apresentando 11,37; 10,49 e 9,09%, tem-se também
redução da DIVMS 58,70; 57,71 e 55,16%, reduzindo consequentemente o CMS 1,90;
1,80 e 1,70% do peso vivo, respectivamente.
O
nitrogênio aplicado às plantas eleva a concentração de proteína na MS, em
detrimento da FDN. E o acúmulo de produtos nitrogenados, promove diluição da
fração de parede celular incrementando a digestibilidade. O crescimento
acelerado das pastagens que recebem adubação aumenta também a digestibilidade
por adicionar componente de maior degradação ruminal, a hemicelulose. A redução
da FDN e maior DIVMS promove o consumo, que por sua vez alavanca o desempenho.
Carboidratos
não estruturais
Os
carboidratos não estruturais (CNE), representados pela sacarose, glicose,
frutose e amido, são mais prontamente digestíveis pela microbiota ruminal. O
alto poder fermentativo destes, em relação aos carboidratos estruturais, os
garantem como boas fontes energéticas. Carboidratos não estruturais atuam em
processos bioquímicos diversos, principalmente como fonte de energia ou cadeias
de carbono. São representados pelas frações de carboidratos contidas dentro das
células e em maior concentração armazenados em estruturas de reservas. A
acumulação de carboidratos solúveis nos tecidos das plantas ocorre quando, a
taxa de formação de glicose, durante o processo fotossintético excede a
quantidade necessária ao crescimento e respiração (ANTUNES et al., 2011).
As
plantas forrageiras, mesmo em plena fase de crescimento, armazenam material de
reserva na raiz e base do colmo para garantir sua sobrevivência em caso de
estresse (CECATO et al., 2001). Sabe-se que as gramíneas tropicais acumulam
pouco CNE em condições de nitrogênio (N) limitante. O acúmulo dos carboidratos
solúveis pode ser atribuído ao alongamento da lamina foliar, em decorrência da
maior idade do vegetal e de doses de N, proporcionando ampliar a produção de
fotoassimilados, que são translocados para os tecidos de reserva. Entretanto,
se a altura de pastejo ou do corte for drástica e não favorecer a manutenção de
um índice de área foliar mínimo ocorrerá gasto dos carboidratos de reserva em
busca de estabelecer um novo estande de folhas, a partir do qual começaram a
produzir fotoassimilados deixando-a de ser dreno para atuar como fonte de CNE
(RODRIGUES, 1984).
A
prática de fornecer fertilizantes para a pastagem conciliada com colheitas não
frequente resulta em aumento nos teores de carboidratos de reserva. Vantini et
al. (2005), encontram maior efeito, sobre o aumento de CNE, correlacionado com
a idade da planta em vista do nível de adubação com N, sendo que as duas variáveis
foram positivas em promover a quantidade de CNE, na base do colmo e nas raízes.
Em
contraponto, estudos realizados por Rodrigues et al. (2005), mostraram que a
aplicação de fertilizantes promove perdas nos teores de CNE do Brachiaria decumbens, e atrelado a este
feito apuraram acréscimo na produção de MS. Os autores indicaram que a adubação
nitrogenada acarreta redução das reservas porque estimula o crescimento,
mobilizando os compostos acumulados nos diversos órgãos.
Os
carboidratos de reserva são de grande importância para as plantas forrageiras
na sua recuperação após o corte ou pastejo, desta maneira desfolhas constantes
reduzem a concentração de CNE. Contudo, deve ser satisfeita a condição para
armazenamento dos carboidratos de reserva, que são utilizados pela planta como
nutrientes para a sua manuteção e o desenvolvimento de futuros perfilhos e
raízes. Então, um bom manejo atrelado à adubação torna-se importante para a
recuperação e produção das plantas forrageiras, como também aumento dos CNE que
são fontes de energia prontamente digestível para os animais.
Este
texto foi extraído de:
RABELO, D. M. L. Efeito da adubação na qualidade da pastagem
e no desempenho de bovinos. Monografia (Pós-graduação em Nutrição e
Alimentação de Ruminantes) – Faculdades Associadas de Uberaba, FAZU, Uberaba,
15 f. 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário