O
custo de manutenção das pastagens, independente da intensificação, é
relativamente baixo em comparação com o enorme potencial de produção de matéria
seca. Todavia, se tem ampla margem de lucro com a produção leiteira em pasto. A
limitação deste sistema é a pequena densidade protéica e energética das
forragens, mas com a adubação e ajuste do ponto de colheita é possível obter
alimentos com menores teores de FDN e alto teor de PB e minerais, de modo que a
suplementação necessária para produções superiores passa a ser somente de energética
(MARTINS et al., 2011).
Revisando
22 investigações científicas Danés (2010), encontrou correlação da PB (64%) e
FDN (-31,8%) na dieta com a produção de vacas leiteiras. Nada obstante, Alvim
et al. (2001), ao estudarem a produção de leite sobre três níveis de adubação
nitrogenada, 100; 250 e 400 kg/ha/ano de N, não observaram diferença
estatística na produção diária de leite, variando de 20,8; 21,1 e 21,4
kg/vaca/dia respectivamente, fornecendo 8,1 kg/vaca/dia de MS na forma de
concentrado com 24% de PB. Segundo os autores, as faltas de respostas nos
tratamentos foram devido ao alto consumo de concentrado, diminuindo a
participação da pastagem no desempenho, além disso, não houve variação na
ingestão de pastagem (12,1 kg/vaca/dia de MS) e no valor nutritivo (PB em 17,3%
e DIVMS de 68,1%) do capim-coastcross, durante o período das águas em 100 dias
de lactação. A única diferença encontrada pelos mesmos pesquisadores foi na lotação
de 6,2; 7,4 e 7,4 UA/ha da menor para maior dose, proporcionando maior produção
de quilogramas de leite por hectare por dia, na quantia de 126, 156 e 158,
respectivamente.
Apresenta-se
reunido, na TABELA 1, os dados de Alvim et al. (1992), que mensuraram durante
dois anos a produção de vacas mestiças (holandês x zebu) em lactação, no regime
exclusivo de pasto cultivado com capim-angola (Brachiaria mutica), nos seguintes tratamentos: T1 – sem adubação,
T2 –pastagem adubada anualmente durante as chuvas com 125, 75 e 80 kg/ha dos
respectivos nutrientes N, P2O5 e K2O.
Tabela 1: Efeito
da adubação (NPK) na composição bromatológica, proteína bruta (PB) e
digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO), do capim-angola e o
efeito destes na produção de leite diária (PLD), taxa de lotação (TL) e
produtividade de leite por área (PLA)
Índices
|
Período Ano
|
Tratamentos
|
||
T1
|
T2
|
|||
PLD (kg/vaca/dia)
|
Secas
|
6,10
|
8,35
|
|
Águas
|
7,25
|
9,15
|
||
Média
|
6,68
|
8,75
|
||
TL (vaca/ha)
|
Secas
|
1,58
|
1,85
|
|
Águas
|
1,65
|
2,30
|
||
Média
|
1,61
|
2,08
|
||
PLA (kg/ha/dia)
|
Secas
|
9,61
|
15,45
|
|
Águas
|
11,96
|
21,05
|
||
Média
|
10,79
|
18,25
|
||
PB (%)
|
Secas
|
7,10
|
9,00
|
|
Águas
|
9,40
|
13,30
|
||
DIVMO (%)
|
Secas
|
56,90
|
64,70
|
|
Águas
|
62,50
|
70,10
|
||
Conforme
elucidado por Alvim et al. (1992), os animais perderam peso no período de seca
e ganharam durante a época chuvosa do ano em todos os tratamentos, apresentando
no T1 declínios mais relevantes. Verifica-se (TABELA 1), que a produção de
leite foi afetada pelo baixo teor de PB da pastagem, visto que as vacas não
foram suplementadas. Mesmo com baixa resposta de produção leiteira, a adubação
em média aumentou 31,1% e 28,7% (T2 x T1), respectivamente na produção de leite
diária por vaca (PLD) e taxa de lotação (TL). Em decorrência disso, a produção
de leite por área (PLA) foi incrementada em convincentes 69,2% (T2 x T1) pela
adubação (ALVIM et al., 1992).
A
proteína bruta (PB) além de nutrir diretamente os animais é também utilizada
como substrato pelos microrganismos ruminais durante a degradação da fibra, por
consequente quanto maior a digestibilidade da matéria orgânica consumida pelo
ruminante eleva-se a demanda de PB. Entretanto, dietas com baixa
disponibilidade energética limitam o uso da PB, não havendo incrementos no
desempenho animal, independente da maior inserção de PB na ração (NRC, 1996). A
adubação da pastagem é eficiente em aumentar a PB e diminuir o FDN da forragem,
porém a maior limitação de bovinos em pastagens é a ingestão de energia
metabolizável. Fato este podendo explicar em partes o baixo desempenho de vacas
leiterias ainda que alimentadas com forragem de alta qualidade (SANTOS et al.,
2005).
Pastagens
tropicais bem manejadas permitem produções de leite de 10 a 12 kg/vaca/dia, em
alguns casos alcançando em média 14 kg/vaca/dia, sem o fornecimento de concentrado,
mas acima deste volume diário é preciso suplementar o rebanho, pois a energia da
dieta passa a limitar a produção (VILELA et al., 1996, LEAL et al., 1996).
Danés
(2010) mostrou que vacas com média de produção de 19,6 kg/dia de leite, se alimentando
de pastagem de capim-elefante bem manejado e com alto valor nutritivo (18,5% de
PB e 58,7% FDN), não precisaram ser suplementadas com concentrado contendo
fontes protéicas, uréia ou farelo de soja, ou seja, a retirada destes
ingredientes na dieta, sendo substituídos por milho moído, não implicou em
queda na produção leiteira, muito pelo contrário resultou em pequena elevação
da produção. Essa mesma autora, analisando dados sobre suplementação
concentrada de vacas lactantes em sistema de pastejo, identificou que a
quantidade de concentrado fornecida explica apenas 32% do leite produzido,
sendo a qualidade da pastagem mais impactante na produção de leite.
De
acordo com Fontaneli (2005), a suplementação energético-mineral, milho moído
com núcleo mineral, bastou para vacas Holandesas em lactação expressar
desempenhos de 20,5 a 26,7 kg/vaca/dia, em sistema de pastagens intensiva,
adubada e rotacionada, dos capins Elefante (Pennisetum
purpureum), Quicuio (Pennisetum
clandestinum) e Tifton 68 (Cynodon
dactylon), com alto valor nutritivo variando de 20,4 a 22,1% de PB e FDN de
63,0 a 66,6%.
Além
do alto potencial produtivo das pastagens, este sistema de produção é
caracterizado pelo baixo custo de produção. Martins et at. (2011),
desenvolveram um amplo trabalho analisando a viabilidade da produção de leite
em confinamento, utilizando como volumoso cana de açúcar, silagem de sorgo ou
silagem de girassol, comparado com a pastagem intensiva (adubada e rotacionada)
de capim-tanzânia, a dieta foi balanceada para atender a produção de leite em 20
kg/vaca/dia com 4% de gordura, empregou-se na avaliação vacas mestiças (holandês
x zebu), o leite foi comercializado em 2011 a R$ 0,70/kg. Neste experimento a
pastagem proporcionou produzir o litro de leite por apenas R$ 0,37, em quanto
que nos demais tratamentos mantendo as vacas no cocho o custo fechou entre R$
0,43 a R$ 0,64, ou seja 16 a 73% mais elevado, reduzindo a margem de lucro do
produtor.
Atualmente,
tem-se observado uma tendência de maior especialização dos sistemas de produção
de leite do Brasil, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, onde se encontram
as principais bacias leiteiras do País. Nesses sistemas são usados animais de
elevado potencial genético para produção de leite, mantidos em confinamento,
recebendo dieta de alto valor nutritivo, à base de concentrados e forragens
conservadas, como silagens e fenos (ALVIM et al., 2001). Entretanto, os
resultados da pesquisa de Martins et al. (2011), revelaram que esse
sistema de alimentação de vacas em lactação se caracteriza pelo alto custo de
produção, quando comparado com o pasto intensificado.
A
adubação da pastagem associada à suplementação energética possibilita alcançar
elevadas produções, mais de 20 kg/vaca/dia, com baixo custo (MARTINS
et al. 2011; DANES, 2010; FONTANELI, 2005).
Diante
do crescente uso de fertilizantes, principalmente em propriedades leiteiras,
ainda são escassas e antigas as investigações que avaliam a influência da
adubação na produção de leite. A carência dos produtores, quanto a estas
informações, os limitam na tomada de decisão sobre a viabilidade do uso da
adubação, principalmente em períodos de altos custos dos insumos, fertilizantes
e concentrados.
Este
texto foi extraído de:
RABELO,
D. M. L. Efeito da adubação na qualidade
da pastagem e no desempenho de bovinos. Monografia (Pós-graduação em
Nutrição e Alimentação de Ruminantes) – Faculdades Associadas de Uberaba, FAZU,
Uberaba, 15 f. 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário