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terça-feira, 7 de maio de 2019

Adubação x Desempenho de vacas leiteiras 5/5


O custo de manutenção das pastagens, independente da intensificação, é relativamente baixo em comparação com o enorme potencial de produção de matéria seca. Todavia, se tem ampla margem de lucro com a produção leiteira em pasto. A limitação deste sistema é a pequena densidade protéica e energética das forragens, mas com a adubação e ajuste do ponto de colheita é possível obter alimentos com menores teores de FDN e alto teor de PB e minerais, de modo que a suplementação necessária para produções superiores passa a ser somente de energética (MARTINS et al., 2011).
Revisando 22 investigações científicas Danés (2010), encontrou correlação da PB (64%) e FDN (-31,8%) na dieta com a produção de vacas leiteiras. Nada obstante, Alvim et al. (2001), ao estudarem a produção de leite sobre três níveis de adubação nitrogenada, 100; 250 e 400 kg/ha/ano de N, não observaram diferença estatística na produção diária de leite, variando de 20,8; 21,1 e 21,4 kg/vaca/dia respectivamente, fornecendo 8,1 kg/vaca/dia de MS na forma de concentrado com 24% de PB. Segundo os autores, as faltas de respostas nos tratamentos foram devido ao alto consumo de concentrado, diminuindo a participação da pastagem no desempenho, além disso, não houve variação na ingestão de pastagem (12,1 kg/vaca/dia de MS) e no valor nutritivo (PB em 17,3% e DIVMS de 68,1%) do capim-coastcross, durante o período das águas em 100 dias de lactação. A única diferença encontrada pelos mesmos pesquisadores foi na lotação de 6,2; 7,4 e 7,4 UA/ha da menor para maior dose, proporcionando maior produção de quilogramas de leite por hectare por dia, na quantia de 126, 156 e 158, respectivamente.
Apresenta-se reunido, na TABELA 1, os dados de Alvim et al. (1992), que mensuraram durante dois anos a produção de vacas mestiças (holandês x zebu) em lactação, no regime exclusivo de pasto cultivado com capim-angola (Brachiaria mutica), nos seguintes tratamentos: T1 – sem adubação, T2 –pastagem adubada anualmente durante as chuvas com 125, 75 e 80 kg/ha dos respectivos nutrientes N, P2O5 e K2O.

Tabela 1: Efeito da adubação (NPK) na composição bromatológica, proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO), do capim-angola e o efeito destes na produção de leite diária (PLD), taxa de lotação (TL) e produtividade de leite por área (PLA)
Índices
Período Ano
Tratamentos

T1
T2
PLD (kg/vaca/dia)
Secas
6,10
8,35
Águas
7,25
9,15
Média
6,68
8,75
TL (vaca/ha)
Secas
1,58
1,85
Águas
1,65
2,30
Média
1,61
2,08
PLA (kg/ha/dia)
Secas
9,61
15,45
Águas
11,96
21,05
Média
10,79
18,25
PB (%)
Secas
7,10
9,00
Águas
9,40
13,30
DIVMO (%)
Secas
56,90
64,70
Águas
62,50
70,10

Fonte: Adaptado de ALVIM et al., 1992.

Conforme elucidado por Alvim et al. (1992), os animais perderam peso no período de seca e ganharam durante a época chuvosa do ano em todos os tratamentos, apresentando no T1 declínios mais relevantes. Verifica-se (TABELA 1), que a produção de leite foi afetada pelo baixo teor de PB da pastagem, visto que as vacas não foram suplementadas. Mesmo com baixa resposta de produção leiteira, a adubação em média aumentou 31,1% e 28,7% (T2 x T1), respectivamente na produção de leite diária por vaca (PLD) e taxa de lotação (TL). Em decorrência disso, a produção de leite por área (PLA) foi incrementada em convincentes 69,2% (T2 x T1) pela adubação (ALVIM et al., 1992).
A proteína bruta (PB) além de nutrir diretamente os animais é também utilizada como substrato pelos microrganismos ruminais durante a degradação da fibra, por consequente quanto maior a digestibilidade da matéria orgânica consumida pelo ruminante eleva-se a demanda de PB. Entretanto, dietas com baixa disponibilidade energética limitam o uso da PB, não havendo incrementos no desempenho animal, independente da maior inserção de PB na ração (NRC, 1996). A adubação da pastagem é eficiente em aumentar a PB e diminuir o FDN da forragem, porém a maior limitação de bovinos em pastagens é a ingestão de energia metabolizável. Fato este podendo explicar em partes o baixo desempenho de vacas leiterias ainda que alimentadas com forragem de alta qualidade (SANTOS et al., 2005).
Pastagens tropicais bem manejadas permitem produções de leite de 10 a 12 kg/vaca/dia, em alguns casos alcançando em média 14 kg/vaca/dia, sem o fornecimento de concentrado, mas acima deste volume diário é preciso suplementar o rebanho, pois a energia da dieta passa a limitar a produção (VILELA et al., 1996, LEAL et al., 1996).
Danés (2010) mostrou que vacas com média de produção de 19,6 kg/dia de leite, se alimentando de pastagem de capim-elefante bem manejado e com alto valor nutritivo (18,5% de PB e 58,7% FDN), não precisaram ser suplementadas com concentrado contendo fontes protéicas, uréia ou farelo de soja, ou seja, a retirada destes ingredientes na dieta, sendo substituídos por milho moído, não implicou em queda na produção leiteira, muito pelo contrário resultou em pequena elevação da produção. Essa mesma autora, analisando dados sobre suplementação concentrada de vacas lactantes em sistema de pastejo, identificou que a quantidade de concentrado fornecida explica apenas 32% do leite produzido, sendo a qualidade da pastagem mais impactante na produção de leite.
De acordo com Fontaneli (2005), a suplementação energético-mineral, milho moído com núcleo mineral, bastou para vacas Holandesas em lactação expressar desempenhos de 20,5 a 26,7 kg/vaca/dia, em sistema de pastagens intensiva, adubada e rotacionada, dos capins Elefante (Pennisetum purpureum), Quicuio (Pennisetum clandestinum) e Tifton 68 (Cynodon dactylon), com alto valor nutritivo variando de 20,4 a 22,1% de PB e FDN de 63,0 a 66,6%.
Além do alto potencial produtivo das pastagens, este sistema de produção é caracterizado pelo baixo custo de produção. Martins et at. (2011), desenvolveram um amplo trabalho analisando a viabilidade da produção de leite em confinamento, utilizando como volumoso cana de açúcar, silagem de sorgo ou silagem de girassol, comparado com a pastagem intensiva (adubada e rotacionada) de capim-tanzânia, a dieta foi balanceada para atender a produção de leite em 20 kg/vaca/dia com 4% de gordura, empregou-se na avaliação vacas mestiças (holandês x zebu), o leite foi comercializado em 2011 a R$ 0,70/kg. Neste experimento a pastagem proporcionou produzir o litro de leite por apenas R$ 0,37, em quanto que nos demais tratamentos mantendo as vacas no cocho o custo fechou entre R$ 0,43 a R$ 0,64, ou seja 16 a 73% mais elevado, reduzindo a margem de lucro do produtor.
Atualmente, tem-se observado uma tendência de maior especialização dos sistemas de produção de leite do Brasil, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, onde se encontram as principais bacias leiteiras do País. Nesses sistemas são usados animais de elevado potencial genético para produção de leite, mantidos em confinamento, recebendo dieta de alto valor nutritivo, à base de concentrados e forragens conservadas, como silagens e fenos (ALVIM et al., 2001). Entretanto, os resultados da pesquisa de Martins et al. (2011), revelaram que esse sistema de alimentação de vacas em lactação se caracteriza pelo alto custo de produção, quando comparado com o pasto intensificado.
A adubação da pastagem associada à suplementação energética possibilita alcançar elevadas produções, mais de 20 kg/vaca/dia, com baixo custo (MARTINS et al. 2011; DANES, 2010; FONTANELI, 2005).
Diante do crescente uso de fertilizantes, principalmente em propriedades leiteiras, ainda são escassas e antigas as investigações que avaliam a influência da adubação na produção de leite. A carência dos produtores, quanto a estas informações, os limitam na tomada de decisão sobre a viabilidade do uso da adubação, principalmente em períodos de altos custos dos insumos, fertilizantes e concentrados.

Este texto foi extraído de:
RABELO, D. M. L. Efeito da adubação na qualidade da pastagem e no desempenho de bovinos. Monografia (Pós-graduação em Nutrição e Alimentação de Ruminantes) – Faculdades Associadas de Uberaba, FAZU, Uberaba, 15 f. 2016.

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